Cura

"Anda lá dar-me um beijinho a porta de casa, vá lá. Já estou aqui. Dois minutos."

E é ele. E eu já estava enfiada na cama e não sairia nem para tirar o meu gato da árvore. E eu fui.

E ele falou e falou e os "dois minutos" foram mais de uma hora.

Ia a caminho e insultava-me a mim mesma. "Estúpida, burra, otária. Que estás a fazer?!"

Ele falou e falou e eu ri e ri. Como sempre. Como sempre foi com ele. Mas foi diferente, diferente porque quando ele falou daquilo que me roía por dentro há uns largos meses eu não senti nada. Porque quando ele me tocou a minha pele não se arrepiou, porque a minha boca não quis a dele, porque as faíscas não estavam lá como estiveram antes.

Percebemos os dois. Eu percebi. Estou curada da minha doença aguda. Quando o nome dele aparece no telemóvel o meu estômago treme mas não como antes nem pelos mesmos motivos.

O encanto dele desapareceu e tudo o que consegui ver ontem naquela hora foram os defeitos e os tiques. Só.

Estou curada. Estou livre. Finalmente.

Tamanho*

0 comentários:

Enviar um comentário